Segundo o pesquisador, uma estratégia agrícola utilizada nesses solos é a aplicação de cálcio, que visa reduzir a acidez, tornando o solo favorável ao cultivo de plantas. “Todavia, além dos custos envolvidos, tal estratégia é limitada apenas a uma camada superficial de solo e pode não ser uniforme, restando gradientes de acidez nos solos para plantio. Um menor crescimento radicular, além de reduzir a produtividade, pode ocasionar maior susceptibilidade à seca. Tal fato é relevante especialmente para cultivos sem irrigação, os quais representam uma prática comum em nossa agricultura”, explica Jonathas.
Para controle das condições de observações científicas, a pesquisa foi conduzida em laboratório simulando condições de solos ácidos e utilizando-se Arabidopsis, uma planta modelo para estudos no sistema radicular. “O foco foi identificar componentes das células de raízes sensíveis à acidez e que provavelmente estariam ligados no desencadear da morte das células sob condições de acidez”. Além disso, elaboraram-se técnicas para examinar o papel de compostos como hormônios que podem prevenir essa morte celular, auxiliando a compreensão de como as células tornam-se sensíveis à acidez.
O trabalho tem orientação conjunta dos professores Lázaro Peres, do departamento de Ciências Biológicas e Victor Vitorello, do CENA-USP. Identificou-se que a parede celular, isto é, o envoltório externo das células vegetais composto por celulose além de outros compostos, é rapidamente afetada pela acidez e isso desencadeia a morte das células.
Durante o intercâmbio na Université Toulouse III Paul Sabatier (França), Jonathas caracterizou o comportamento de proteínas responsáveis por formar e modificar a parede celular durante o estresse e que demonstraram estar positivamente relacionadas à morte das células. “Outro fato marcante foi que a aplicação do hormônio vegetal etileno em raízes gerou tolerância das células à acidez, reduzindo a morte celular das mesmas. Muito do que se sabe sobre esse hormônio se deve a sua ampla utilização na agricultura em função de sua ação na parede celular de frutos exercendo controle sobre o amadurecimento. Assim, informações correlacionadas foram úteis para se obter esses resultados inéditos”.
De acordo com o pesquisador, a compreensão biológica do fenômeno representa um avanço científico, pois já há algumas décadas se busca conhecer melhor como a acidez interfere no crescimento das plantas. “Além disso, informações básicas sobre o problema são necessárias para que posteriormente se adotem estratégias aplicadas e direcionadas para melhoria do desempenho das culturas no campo. Ressaltamos ainda que esse tema de solos ácidos é relevante para nossa agricultura, mas ainda pouco abordado pela comunidade científica no Brasil”.
Via Esalq – Texto: Caio Albuquerque