Não se obterá respostas a fertilização dos solos se os outros “fatores de produção” apresentarem-se limitantes. Por outro lado, se uma limitação por nutrientes for detectada, com toda certeza, estar-se-á minimizando os efeitos negativos da não aplicação desse elemento. Dessa forma, ao fertilizar não se deve esperar respostas em aumento da produtividade mas, talvez, corroborará para melhorar a performance do estado nutricional, com reflexos na saúde vegetal. Para um diagnóstico mais acurado do “ambiente de produção” há que se considerar a viabilidade espacial dos nutrientes no solo.
Balanço nutricional
Para ocorrer o crescimento vegetal é necessário que o total da concentração dos cátions inorgânicos (NH4+, Ca2+, Mg2+, K+, Na+) seja superior ao total da concentração de ânions inorgânicos (NO3-, H2PO4-, Cl–, SO4=). Portanto, o resultado final no acúmulo em matéria seca pelas plantas, durante seu ciclo de vida, será uma resultante dos efeitos cumulativos de diluição e concentração no balanço de íons. Assim sendo, esta se falando em grupo de íons e não de um íon específico. É equivocado pensar em manejo individual de nutrientes (como por exemplo: resposta a P, etc.). Outro aspecto importante é a ideia, errônea, que se aplica nas lavouras, como sendo o solo um reservatório de tudo aquilo que pode se dispor para fazer estoque (Wastebasket of the Earth). Na Biologia a ideia do quanto mais, melhor, nunca foi e nunca será verdadeira, como pode ser visto no Quadro 1, onde a área declarada como deficiente apresenta-se com teores muito mais elevados em Fósforo, em relação à outra designada como “Boa”.
QUADRO 1 – RESULTADO DE ANÁLISE QUÍMICA DE TERRA
Apesar dos solos tropicais apresentar componentes mineralógicos com alta afinidade de interação química com o P-solúvel, nunca se esqueça que o que esta em jogo é o P na planta e não, somente, o P no solo.
Variabilidade espacial da fertilidade do solo
Um programa de fertilização do solo assemelha-se a um diagrama de blocos interdependentes, onde o resultado do “todo” depende das etapas anteriores e da qualidade das partes componentes. Portanto, nessa inter-relação de fases, fica evidente que a amostragem é o ponto de partida para início do programa, sendo, não raro, encontrar citações de autores que atribuem 85% do erro total a essa etapa, os 15% restantes, estariam distribuídos nos processos seguintes, conforme segue:
PROGRAMA DE FERTILIZAÇÃO DO SOLO
O objetivo é que resultado da análise química revele o verdadeiro estado do nutriente no solo, em especial o Fósforo, pois recomenda-se reposição, em caso de desequilíbrio, ou supressão, em caso de excesso.
No caso específico do Fósforo, os procedimentos de amostragens podem levar a interpretações errôneas com relação à disponibilidade do P para as plantas. A “precisão” é aumentada ou o “erro” será reduzido, quando considerado um sistema de avaliação química da fertilidade que possibilite o equacionamento conjunto das variabilidades horizontal e vertical.
Variabilidade horizontal
No exemplo a seguir verifica-se uma amostra dessa variação quando se pratica a agricultura de precisão, onde se constata as mais variadas amplitudes do Fósforo no solo. Ressalta-se que a amostragem ocorreu no horizonte entre 0-15 cm de profundidade, como normalmente as amostragens de solo ocorrem na profundidade entre 0-20 cm, espera-se que essas variações sejam intensificadas, comprometendo, ainda mais, o diagnóstico.
QUADRO 2 – VARIABILIDADE HORIZONTAL DO P NO SOLO
QUADRO 3 – VARIABILIDADE HORIZONTAL DO P NO SOLO
Variabilidade vertical
O resultado da análise química do P-disponível no solo sempre será expresso em densidade de concentração, ou seja, mg/dm3. Os laudos de análise de solo quando expressam os seus teores estarão revelando a disponibilidade por unidade de volume (dm3). A transferência desses resultados para o “todo” devem representar um volume de solo amostrado compatível com o histórico de manejo da área, o qual possibilita um diagnóstico correto, levando-se em conta os efeitos de diluição e concentração do elemento no horizonte ou perfil considerado. Exemplo dessa variabilidade pode ser visto a seguir:
QUADRO 4 – ESTRATIFICAÇÃO VERTICAL NA AMOSTRAGEM DO SOLO
Torna-se evidente que quanto maior a profundidade amostrada, maior o efeito de diluição do elemento na análise (menor densidade de concentração). Portanto, localizar a densidade de concentração da fertilidade do solo é a tarefa de um eficiente sistema de amostragem de precisão.
4- ARGUMENTOS: PONTUAIS
- Considerando a localização do fertilizante fosfatado na profundidade superficial (0 – 10 cm) pode-se estar cometendo um equívoco frente àqueles solos que apresentam um gradiente de concentração em P, da superfície para a subsuperfície.
- Sem avaliar a variabilidade espacial do P no solo, compromete-se todas as tentativas de recomendações assertivas.
- Alterações no total da concentração de ânions inorgânicos, pela elevação do P, pode induzir redução no acúmulo em matéria seca, pois apesar da dinâmica do P no solo, o estado nutricional deve ser avaliado pontualmente, ou seja, balanço de P na planta, estará sempre na dependência dos demais nutrientes em cada fase.
- Melhores diagnósticos sobre a fertilidade dos solos só serão conseguidos se nas amostragens forem contempladas as variabilidades horizontal e vertical.