Neste diagnóstico comentado, utilizaremos os dados utilizados pelos pesquisadores da Fundação Chapadão no estudo sobre “ANOMALIA” NA CULTURA DE SOJA, publicado em fevereiro/2018 como “Comunicado Soja – REPEX FUNDAÇÃO” e republicado pela Revista Cultivar.
FERTILIDADE DO SOLO
No estudo original, temos as análises do solo realizadas em 2 propriedades distintas, na região dos Chapadões-MT, identificadas como sendo representativas de áreas dentro e fora das manchas de ocorrência da Anomalia.
Utilizando-se do conceito de equilíbrio de saturação das bases (cálcio, magnésio e potássio), transformamos, parcialmente, os resultados de teor de cada elemento, em participação relativa no complexo de troca (C.T.C.) conforme o quadro 1 e 2.
Quadro 1 – ANÁLISE COMPARATIVA DO IMPACTO DA REDUÇÃO RELATIVA NA CAMADA DE 0-20CM, NA MANIFESTAÇÃO DO SINTOMA ANOMALIA, NA PROPRIEDADE 1.
Quadro 2 – ANÁLISE COMPARATIVA DO IMPACTO DA REDUÇÃO RELATIVA NA CAMADA DE 0-20CM, NA MANIFESTAÇÃO DO SINTOMA ANOMALIA, NA PROPRIEDADE 2.
DIAGNOSE FOLIAR
A análise foliar das áreas são apresentadas e interpretadas de acordo com o método do “nível de suficiência” dos teores nutricionais. Neste diagnóstico comentado optamos por utilizar os índices nutricionais com nosso próprio banco de dados, através do método IDRIS, cujos resultados encontram-se no quadro 3.
Quadro 3 – ÍNDICES DE BALANÇOS NUTRICIONAIS – NORMAS DRIS / LABORSOLO
Nutricionalmente as plantas se apresentam com deficiência em cobre (Cu) e excesso em magnésio (Mg) com agravamento das limitações nas áreas com sintomatologia, principalmente na propriedade 2.
Na literatura, os principais sintomas de deficiência de Cobre são:
- Folhas jovens tornam-se murchas e enroladas, tornando-se quebradiças;
- Leva a inclinação de pecíolos e talos;
- Clorose devido a deficiência de clorofila, deixando as folhas pálidas amareladas;
- Reduz a lignificação, os xilemas são comprimidos por tecidos vizinhos, reduzindo o transporte de água e solutos pela planta).
Infelizmente o artigo original não apresenta a produtividade das áreas, mas pela condição da fertilidade original, pode-se inferir que houve uma interferência direta na produção de grãos, não só pelo desequilíbrio em potássio, como também pelo comprometimento da disponibilidade do cálcio no solo, que se apresenta muito baixa, principalmente na propriedade 1. O desequilíbrio nutricional entre Ca:Mg:K, se verifica mais limitante na solução do solo. O impacto disso na nutrição é um desequilíbrio nutricional em Ca, excesso de Mg e deficiência em K.
A “Anomalia”, neste caso, é uma manifestação visível do conjunto de deficiências nutricionais ocorrendo nas áreas associado com o excesso de ácidos e a falta de bases – cálcio e potássio. Não podemos descartar também o comprometimento das condições físicas dessas áreas, mas no estudo original não temos tais informações.
As áreas que não apresentaram a sintomatologia, também apresentam desequilíbrio nutricional, conforme indica a diagnose foliar.
Embora num primeiro diagnóstico, feito pelos pesquisadores da Fundação Chapadão, ter associado a sintomatologia da “Anomalia da soja” à deficiência de Potássio, tanto nos solos quanto na planta, em nada se assemelha tal deficiência com os sintomas apresentados, falta de potássio (K+), que consiste em:
- Folhas mais velhas apresentam clorose, especialmente nas bordas, que podem se espalhar com o tempo;
- Necrose nas bordas das folhas mais velhas;
- Diminuição do tamanho das folhas;
- Folhas enroladas para baixo, conhecido como enrolamento marginal.
À luz deste diagnóstico – D.A.C., com os mesmos resultados obtidos pela Fundação Chapadão, destacamos outras causas nutricionais, ou seja, um severo desequilíbrio entre as três principais bases do sistema de troca do solo, o cálcio, o magnésio e o potássio. De fato, no solo, o potássio é o elemento que apresenta a maior dedução relativa na sua disponibilidade nas áreas com sintomas. Isso não significa que, se aplicarmos potássio, o problema estará resolvido, pois há a necessidade em reduzir o déficit absoluto entre eles e adequar uma restituição de equilíbrio para se atingir um mínimo de 50% Ca, 10% Mg e 3% K, na CTC pH7, como forma de promover o equilíbrio entre as bases e tornar possível que a solução do solo seja restituída uniformemente pelos três cátions nutrientes, sem que haja interferência nas suas biodisponibilidades.
Quando se observa o estado nutricional das plantas (quadro 3), verifica-se uma deficiência em cobre (Cu++), o que justifica os sintomas apresentados, e um excesso em magnésio (Mg2+) o qual pode comprometer a assimilação do potássio, se sua saturação não for ajustada. Esse desequilíbrio está prejudicando a FBN (IN<O) e o crescimento vegetativo (IZn<O).
Há de se ressaltar neste final de análise, que o termo Anomalia da Soja, também se constitui num termo recente para designar áreas contaminadas com alguns tipos de fungos (SYNGENTA, 2024).
Entretanto, não é possível ‘bater o martelo’ que a causa seja fúngica, porque em experimentos com os cultivares e fungos não se obteve o mesmo resultado (MIGUEL-WRUCK el al, 2023).
Referências:
MIGUEL-WRUCK, D.S. et al. Eficiência de fungicidas para o controle da podridão de grãos da soja, na safra 2022/2023: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos. 2023. (circular técnica). Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1156398/eficiencia-de-fungicidas-para-o-controle-da-podridao-de-graos-da-soja-na-safra-20222023-resultados-sumarizados-dos-ensaios-cooperativos. Acesso em 27 fev. 2024.
ANOMALIA DA SOJA PODE ESTAR RELACIONADA A TRÊS FATORES. Canal Rural. Disponível em: https://www.canalrural.com.br/agricultura/soja/anomalia-e-quebramento-da-soja-pode-estar-relacionada-a-tres-questoes/. Acesso em 27 fev. 2024.
SYNGENTA. Aumento de casos de anomalia da soja na região sul: o que fazer. 2024. Disponível em: https://maisagro.syngenta.com.br/dia-a-dia-do-campo/aumento-de-casos-de-anomalia-da-soja-na-regiao-sul-o-que-fazer/ . Acesso em 27 fev. 2024.
DESEQUILÍBRIO NUTRICIONAL EM SOJA. Revista Cultivar. Disponível em https://www.revistacultivar.com.br/artigos/desequilíbrio-nutricional-em-soja. Acesso em 27 fev. 2024.
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