A soja como qualquer outra espécie de planta tem no nitrogênio um elemento essencial, uma vez que este, além de fazer parte de constituintes moleculares importantes como, a clorofila, citocromos, fitocromos é ainda, na sua forma molecular, como o radical amina (NH2), a base fisiológica para a produção de aminoácidos. Sabe-se que os aminoácidos são a base para a produção de proteínas e enzimas.
Assim, todas as enzimas, que são proteínas, possuem nitrogênio, assim como todo o esqueleto orgânico proteico é composto por nitrogênio, carbono, hidrogênio e oxigênio.
Não é por acaso, que o nitrogênio é um macronutriente importante e abundante.
Por outro lado, ao se considerar os mecanismos pelos quais o nitrogênio passa no solo e nas plantas vai se notar que este é o elemento mais complexo, quando se leva em consideração seu ciclo de participação no processo de vida no planeta.
Qualquer forma de nitrogênio que chega ao solo acabará oxidada a nitrato (NO3–). O nitrogênio orgânico, por exemplo, será oxidado a amônio por bactérias de decomposição, em seguida o amônio oxidará a nitrito pelo trabalho das nitrobactérias como as nitrosomonas e nitrosococus e depois a nitrato, com as nitrobacter.
Devido a este mecanismo, o nitrogênio sempre acabará em nitrato. Não é por acaso, que as plantas no processo de evolução passaram a consumir nitrato para obter o nitrogênio para suas funções biológicas.
Logicamente as plantas fazem ao contrário da biota no solo. As plantas absorvem nitrato, o reduzem a nitrito através da ação da enzima nitrato redutase, posteriormente a amônio através da ação da enzima nitrito redutase. O amônio é então assimilado através das reações com glutamato, produzindo glutamina e finalmente os aminoácidos que formarão as proteínas. EX :
A glutamina é um aminoácido parental com dois radicais amina, que de certa forma, dará origem aos demais aminoácidos.
Assim, o nitrogênio vai e volta nos ciclos vitais, isto é, uma matéria viva ao morrer e se depositar no solo será oxidada a nitrato. As plantas absorvem o nitrato do solo e o reduz novamente a amina e assim o ciclo se repete indefinidamente.
Ocorre que na agricultura, como temos interesse nas safras, colhemos os grãos, fibras, sementes, folhas, frutas e o que mais puder ser produzido. Dessa forma, o ciclo do nitrogênio é quebrado e, portanto somos obrigados a aportar nitrogênio no sistema.
Este nitrogênio exógeno é normalmente aportado na forma de fertilizantes ou da fixação biológica.
Aqui Começam os Problemas
Sendo nitrogênio do sistema orgânico ou colocado como fertilizantes, tudo acabará em nitrato no solo, mais cedo ou mais tarde, só dependendo da água e temperatura. Como o sistema depende da biota do solo, não há controle de qualidade, quanto mais quente e mais úmido, maior a velocidade de nitrificação (NH4+ → NO2).
Portanto, todas as formas de nitrogênio no solo se transformarão em nitrato (NO3–), através da nitratação (NO2 → NO3–)
Ocorre que o nitrato é um ânion e, portanto, não tem condições de ficar retido na CTC (capacidade de troca de cátion). Ora, se este é anion e não fica retido na CTC, sempre estará sujeito à lixiviação. Desta forma, grandes concentrações de nitrogênio são perdidas todos os anos devido às precipitações pluviométricas. Portanto, quanto mais chuvas, mais perdas, quanto mais quente mais perdas.
Obs. O nitrogênio não se acumula no solo!
Dado o exposto acima, o que poderíamos concluir em relação aos solos sob cerrado que na sua maioria são de textura arenosa, as temperaturas nestas regiões são altas, pois se encontram em condições tropicais e pelo que constam, as precipitações também são elevadas?
Será que é necessário ser cientista pra prever que o sistema joga contra a permanência do nitrogênio no solo?
Pelo descrito acima, os solos sob cerrado tem as melhores condições para lixiviação do nitrogênio. Ocorre que a soja é uma cultura produzida no verão, assim em qualquer região produtora do país se concentram as maiores precipitações pluviométricas.
Além da lixiviação, ocorre ainda um fenômeno interessante com o nitrogênio, a perda por volatilização.
A volatilizacão ocorre por dois motivos básicos, primeiro, em condições de alta umidade no solo, o ambiente se torna redutor e o nitrato se reduz a N2 ou NO2 que são formas gasosas e, portanto, perdido. A outra maneira de perda por volatilização decorre de mudanças no pH do solo. Condições alcalinas promovem a mudança da forma amoniacal (NH4)+ para a forma de amônia (NH3) a qual é volátil. Assim, uso de fontes amoniacais em solos corrigidos, principalmente sob o plantio direto com alta concentração de calcário aplicado sem incorporação na superfície, cria um gradiente alcalino, dessa forma produzindo condições para a formação de amônia (NH3) que é gás na superfície, portanto volátil e sujeito a perdas. Assim, verifica-se que o nitrogênio é um elemento difícil. Se for aportado ao solo e a planta não consumí-lo prontamente, poderá ser lixiviado ou perdido por volatilização.
Este mecanismo é verdadeiro, pois não se encontra nitrato na solução do solo, como ocorre com cátions por exemplo.
Alguém conhece análise de solos onde se mede o nitrogênio?
O caso da soja
As leguminosas em geral possuem alta CTC (Capacidade de Troca de Cátion) nas paredes celulares do seu sistema radicular. Isto implica que as paredes celulares das suas células radiculares são ricas em ácidos poligalacturônicos, que lhes conferem um grande número de cargas negativas no apoplasto das raízes.
Este grande número de cargas negativas tem a característica principal de atrair cátions, principalmente cátions bivalentes e trivalentes. Não é por acaso que a soja é considerada uma planta calcícola (alta demanda por cálcio). Esta pode acumular até 20g de cálcio por Kg de matéria seca. Esta concentração é 10 a 15 vezes superior aos teores de fósforo.
Assim plantas com alta CTC no sistema radicular atraem cátions, no entanto, por outro lado, repelem ânions.
Para a acumulação de ânions estas plantas usam o sistema de pareamento de íon acompanhante, principalmente pra absorção do sulfato e fosfato. No entanto, não existe pareamento eficiente para nitrato. Assim, leguminosas, por possuírem alta CTC no sistema radicular, tem certa dificuldade em conseguir nitrogênio diretamente do solo através da absorção de nitrato.
Fazendo um jogo filosófico, provavelmente não é a toa que estas espécies durante seu processo evolutivo desenvolveram mecanismos alternativos para conseguir nitrato. Este mecanismo que possui milhões de anos de evolução é a fixação simbiótica de nitrogênio.
A fixação simbiótica de nitrogênio se dá pela troca de nitrogênio atmosférico (N2) que é fixado por micro-organismos e doado a planta hospedeira, pela troca com fotossintetatos das plantas hospedeiras, para manter os microrganismos vivos. Este mecanismo de troca mutua é a simbiose.
Dessa maneira, uma vez que, este mecanismo existe na natureza, por que não usá-lo em benefício da agricultura? A fixação simbiótica captura da atmosfera milhares de tonelada de N2 por ano e transforma em formas assimiláveis de nitrogênio para a formação de proteínas e tecidos. Portanto, se agirmos de maneira inteligente, conseguiremos aproveitar este mecanismo natural em beneficio das safras agrícolas, sem o custo do nitrogênio dos fertilizantes.
Não obstante as bactérias fixadoras de nitrogênio são de natureza saprófita, pois estas, em condições naturais, se alimentam da matéria orgânica do solo. Caso encontrem um organismo simbionte que lhe forneça carbohidratos como a soja, por exemplo, passam a fixar N2 para a planta a fim de se beneficiar da simbiose.
Neste jogo, quem tem mais a perder é a soja e não a bactéria. Assim, é a soja que deve iniciar o jogo.
O Fenômeno da Fixação Biológica do Nitrogênio
Para tanto, a soja deve sinalizar para as bactérias que lá se encontra e esta disposta a fazer uma parceria de simbiose. Para isto a soja deve sinalizar para a bactéria que está disponível para facilitar as trocas. Para tanto deve produzir sinais químicos, de tal forma que as bactérias a reconheçam. Este sinal químico é uma isoflavona, que é excretada pelas raízes e volatiliza no meio aeróbico do solo e ao atingir as bactérias que através de um gen especifico chamado “NOD” reconhece a presença das raízes da soja e passa a produzir enzimas proteolíticas com o objetivo de destruir as paredes dos pelos radiculares infeccionando o sistema radicular e ocupando o apoplasto onde se desenvolvem e começam a utilizar os fotossintetatos produzidos pela soja e em troca fixa o nitrogênio atmosférico e transfere às plantas de soja que após a formação de ureídeos os transferem para a parte aérea para a assimilação e consequente produção de proteínas e aminoácidos para a formação dos tecidos.
Este mecanismo é altamente eficiente e consegue na maioria das vezes, suprir as plantas em nitrogênio para produção máxima de matéria seca.
Na natureza os mecanismos fisiológicos são normalmente regulados pelo sistema de “feed back”, ou seja, os eventos são consequências da falta ou dos excessos. A falta de uma substância induz sua produção, o contrário, o excesso inibe a produção.
Assim para a soja sinalizar ao Bradirhizobium japonicium que se encontra no solo, e que necessita de nitrogênio, o evento se dá, justamente pela falta de nitrogênio, ou seja deve ocorrer a falta inicial de N.
O estresse provocado pela falta de nitrogênio induz a enzima PAL (fenilalanina amônia liase) a produzir as isoflavonas, que vão sinalizar ao Bradirhizobium japonicium para que infeccione a soja e passe a se reproduzir nos módulos e fixar nitrogênio.
Desta forma, esta interação simbiótica ocorre há milhões de anos. No entanto, esta se deve a manutenção das plantas para sua sobrevivência. Ocorre que hoje, queremos das plantas uma superprodução que a natureza não contemplou. A sobrevivência pura e simples das plantas de soja não condiz com a agricultura comercial.
Pensando nisso, nos últimos anos tem se intensificado o melhoramento das estirpes das bactérias fixadoras, com aumento de sua eficiência em infeccionar plantas de soja. Conseguiram-se avanços significativos na interação bactéria – hospedeiro e este mecanismo passou a ser muito eficiente.
Grandes produções de soja têm sido conseguidas com esta técnica. A eficiência do sistema levou a maximização da fixação simbiótica e a soja é capaz de altas produtividades sem o aporte de nitrogênio dos fertilizantes.
Se o sistema é eficiente para acumular nitrogênio e consequentemente matéria seca em plantas de soja. Por que esta se inventando esta nova moda de aplicar nitrogênio em soja?
Algumas premissas podem ser colocadas para discussão
MOTIVO COMERCIAL
O nitrogênio é um elemento caro. As fontes salinas são importadas e as fontes orgânicas são derivadas de petróleo com alto custo para produção.
Pode-se então denotar que há um grande interesse da indústria em comercializar nitrogênio. A grande produtora no país é a Petrobrás, e tudo que vem da Petrobrás nos dias atuais deve ser levado em consideração.
Por outro lado, as fontes salinas estão nas mãos de dois grandes grupos transnacionais.
Com o agronegócio brasileiro bombando, com altas produções e agricultores faturando alto, mesmo na crise, o mercado brasileiro é o grande filão a ser aproveitado.
A soja uma commoditie, hoje muito valorizada, paga qualquer desaforo.
Como a soja ocupa a maior parte da área agricultável do país, nada melhor para se criar a “necessidade” da soja por nitrogênio. São milhares de hectares a serem adubados. Quer melhor oportunidade para os marqueteiros de plantão?
De repente, a soja passou a ser uma grande consumidora de nitrogênio e para as grandes produtividades deve-se então aportar nitrogênio às plantas via fertilizantes.
As grandes transnacionais agradecem, os vendedores e revendas de fertilizantes agradecem o agricultor acha que aumentou sua produtividade, a classe agronômica inerte e pouco instruída compra a ideia. Pior ainda, fazem parte do esforço de venda. Alguns professores universitários com e sem renome no mercado, em palestras pais afora elogiam e induzem a técnica, sabe-se lá porque e de repente, a técnica de se aplicar nitrogênio em soja passa a ser a grande revolução das lavouras.
Mas como algum sujeito, em algum lugar, num certo momento aplicou nitrogênio na soja e teve sabe-se lá porque, um incremento de produtividade. Deu uma tremenda “resposta”.
Pronto! É o suficiente para se desprezar uma técnica que é a fixação simbiótica e que consumiu muito esforço em pesquisa apenas para satisfazer o mercado.
Ninguém fez uma simples análise de folha, para medir a necessidade. Ninguém avaliou sequer a produtividade, que em grande parte das vezes é mentira. Ninguém avaliou as condições climáticas para se verificar a nodulação. Ninguém avalia a nodulação. Mas, todos rapidamente ficam sabendo das novidades e grandes empresas, inclusive grandes cooperativas passam a recomendar a técnica, totalmente no escuro. Sabe-se lá com que interesse.
MOTIVO TÉCNICO
A técnica para se incrementar a fixação simbiótica de N é a inoculação das sementes com Bradirhizobium japonicum.
A ideia é aproximar as raízes que serão emitidas das sementes com a bactéria e facilitar a infecção. Esta é a técnica. Simples, qualquer pessoa consegue fazer. O custo é muito baixo e o sistema é eficiente.
Ocorre que está colocado aos quatro ventos, que há um grande exército de patógenos no solo só esperando pelas sementes da soja para dizima-las, sem dó nem piedade.
Há exércitos de fungos, de ferrugens, de manchas, de mofos, de bactérias, de vírus, de todos os tipos possíveis de insetos, que não estão ainda descritos nos manuais de zoologia.
Então para combater toda esta horda de inimigos do agricultor, inventou-se o tratamento de sementes.
Primeiro, para se fazer o tratamento de sementes, seria interessante antes de qualquer atitude, saber-se qual é o patógeno presente nas sementes para se eleger um produto para aquele patógeno.
Alguém conhece um produtor que faz análise de patologia de sementes?
Pior ainda, alguém conhece um laboratório de rotina para se fazer uma análise de patologia de sementes? A Embrapa não vale.
Como ninguém analisa, ninguém sabe que patógeno está ativo na semente.
Ai apareceu a grande salvação dos ignorantes.
O TRATAMENTO SISTÊMICO DAS SEMENTES
Como há um grande número de pessoas a ignorar o que realmente há com as sementes, pois se conhece pouco sobre estas patologias, o mercado sempre aparece com as soluções comerciais.
Passa-se então a agregar as sementes um grande número de produtos milagrosos que resolvem tudo. De bactérias, passando pelos fungos, insetos, e toda ordem de pragas.
Vai daí que o governo presta mais uma colaboração e proíbe o tratamento nas propriedades, obrigando o produtor a adquirir as sementes tratadas pelo vendedor. Como o vendedor está ligado a alguma empresa, o tratamento é o preconizado pela empresa e não pela técnica.
Ora, com esta gama de produtos, agregados as sementes para controlar doenças e pragas, o que se pode esperar em relação ao pobre Bradirhizobium japonicum, que, aliás, é uma bactéria , quando entra em contato com estas sementes contaminadas com fungicidas, inseticida, nematicida e outros quetais.
Não precisa ser cientista, pesquisador, professor, ou seja, lá o que, para imaginar o resultado. Há trabalhos patrocinados pelas empresas produtoras desta tecnologia provando que todos estes produtos não prejudicam o Bradirhizobium japonicum. Dá para acreditar?
Como a maioria das sementes de soja utilizadas nas lavouras são tratadas, imagina-se que, a população de bactérias fixadoras deva ser prejudicada mesmo com a inoculação e, por conseguinte a fixação de nitrogênio. Dessa forma, pode ocorrer baixa nodulação, ou mesmo a morte total das bactérias fixadoras, tudo causado em nome de uma técnica usada para combater doenças que provavelmente e muito provavelmente poderiam ocorrer. Como não há diagnóstico prévio de real necessidade dos tratamentos com defensivos, para facilitar o operacional, trata-se tudo e seja o que Deus quiser.
Daí, como na há fixação, aplica-se nitrogênio na soja.
Será que não esta na hora de se avaliar as técnicas?
O agricultor, por sua vez, ignora a técnica, este é pragmático, seu negócio é produzir e quanto mais, melhor. A classe agronômica esta comprometida com o tratamento de sementes e a venda do nitrogênio.
Portanto, o resultado está posto. Na duvida, aplica-se o nitrogênio, sem analise, sem diagnóstico, sem critério, apenas baseado na conversa de um certo fulano, num certo local se saiu bem com a técnica.
MOTIVAÇÃO FISIOLÓGICA
O Bradirhizobium japonicum é uma bactéria. Em sendo uma bactéria é composta por minerais, aminoácidos e lipídeos bem como enzimas e carbohidratos.
Portanto, “o bicho é vivo”.
Para continuarem vivo, algumas premissas são necessárias.
Primeiramente, o pH ideal para sobrevivência de bactérias deve estar entre 5,5 e 6,5 quando medido em Ca Cl2 (0,01N). A questão então é: Quem controla o pH do solo? Quantos são os produtores que fazem análises de solo anualmente? Quem liga para calagem? Muitos produtores não fazem calagem, pois acham que o frete para transportar calcário é muito caro. Como normalmente o valor do frete é maior que o valor do produto, muitos banalizam a calagem, mas aplicam N, P, K, pois estes são mais caros e segundo os incautos compensa o frete.
Ora, se o produtor não faz calagem, será que se preocupa com o Bradirhizobium japonicum, uma simples bactéria invisível.
Segundo, ressaltando que o Bradirhizobium japonicum é uma bactéria, esta necessita de água e precisa respirar, portanto no solo deve haver umidade e oxigênio. Se o solo for compactado estas duas premissas não ocorrem. O solo não armazena água, nem tampouco tem oxigênio. Se há compactação a densidade global sobe, reduzindo os espaços porosos. Sem esta condição a sobrevivência do Bradirhizobium japonicum será comprometida. Quem avalia compactação? Quem possui um penetrômetro para uso corriqueiro? Quem usa um infiltrômetro para medir a velocidade de infiltrações de água no solo?
Novamente, todas estas avaliações são complicadas e trabalhosas, portanto e mais fácil aplicar nitrogênio. Dá muito menos trabalho.
Terceiro, lembrando novamente que o Bradirhizobium japonicum é uma bactéria, portanto possui proteínas e enzimas. Se possuem proteínas, vale ressaltar que em temperaturas acima de 40ºC estas são desnaturadas. Logicamente em condições tropicais sabe-se que as temperaturas dos solos ultrapassam facilmente os 40ºC, podendo atingir 60ºC.
Ora, alguém sobrevive a uma temperatura de 60ºC?
Mais uma vez, alguém mede a temperatura do solo de forma corriqueira para avaliar sua variação?
Por que será que a temperatura do solo sobe tanto?
O sistema de controle de temperatura do solo é mediado pela dissipação do calor provocado pela radiação. No solo o único sistema para dissipação do calor é a água. Portanto, é a água que esfria o solo.
Para a água esfriar o solo e manter viva a biota e mesmo a soja, é necessário que haja um movimento ascendente de água que se dá através do sistema capilar, ou seja, o movimento de água à partir do lençol freático para cima, é que resfria o sistema. A água ao atingir a superfície é evaporada e este mecanismo rouba calor do ambiente (entropia negativa) fazendo tudo em volta se resfriar. Assim, para o solo se resfriar na superfície é necessário que a água venha do subsolo.
Portanto, o sistema de capilaridade do solo deve estar intacto. Caso a capilaridade seja quebrada o movimento ascendente de água em direção à superfície é interrompido e consequentemente a água não evapora. Se não ocorrer a evaporação na superfície todo o sistema se aquece. Para o sistema capilar funcionar este não pode ser obstruído ou quebrado.
Em solos sem movimentação como no plantio direto, seria de se esperar que não houvesse como quebrar o sistema capilar, pois o solo teoricamente se encontra indeformado. Por outro lado, ocorre um fato muito pior. Em condições de plantio direto há palha sobre a superfície. As calagens por outro lado são feitas sem incorporação. Se há palha, há lixiviação de uma série de substâncias como ácidos orgânicos e potássio. O excesso de potássio oriundo da palha e um forte dispersante de argilas, por ser um íon monovalente. Íons monovalentes provocam dispersão ao contrário de íons trivalentes que causam agregação.
A calagem superficial deposita grandes quantidades de calcário na superfície, pois se calculava doses para incorporar a 20 cm e se depositam na superfície. Dessa forma potássio e cálcio ingressando em altas concentrações no sistema provocam a dispersão das argilas. Estas assim dispersas lixiviam e entopem os poros capilares provocando um sistema semelhante ao “infarto”. Poderíamos grosso modo, chamar isto de infarto do solo.
“SOLO INFARTADO DEVERIA ESTAR NA UTI”
Se o sistema capilar do solo se encontra obstruído, a água não sobe, portanto não evapora, provocando temperaturas elevadíssimas próximas a superfície. Este tipo de ambiente não e propicio nem as plantas, muito menos para as bactérias.
A pergunta então seria: Quem mede a temperatura do solo a 5 cm, 10cm, 20cm de profundidade? Quem possui geotermômetro?
Quem avalia o estrago que o plantio direto promove na capilaridade do solo? Muito pelo contrário, é quase que proibido se manifestar a respeito do plantio direto.
Quem analisa a quantidade de argila dispersa?
E a saturação do potássio? Está no dicionário de todo produtor e vendedor que tem que colocar potássio. Há solos infartados de potássio e se continua a colocar sempre mais. Por quê? Porque se convencionou que o potássio é importante e que não há como se plantar sem ele. Quem avalia? Quem mede? Mas o potássio faz parte do N, P, K. e segundo os vendedores muito importante para o enchimento dos grãos.
O potássio além de desagregar argilas, ainda saliniza o sistema, aumentando o potencial osmótico e invertendo o fluxo de água da planta para o solo.
Este elemento na maior parte das vezes é colocado no sulco de plantio provocando este fenômeno tanto para as sementes, quanto para o Bradirhizobium japonicum.
Logicamente que sob estas condições de salinidade e potencial osmótico, a sobrevivência é diminuída.
Concluindo os argumentos expostos acima
É já de domínio público que o nitrogênio é um elemento essencial tanto para soja como para qualquer outra planta. Então não está em questão se este é ou não importante.
O que se tem de fato é que a soja é uma espécie altamente eficiente em explorar os recursos escassos do meio como nitrogênio e fósforo. Ora para conseguir nitrogênio, que é um elemento essencial, como descrito no inicio do artigo, esta consegue por simbiose. Por que diabos então, estamos tentando dar nitrogênio a ela como fertilizantes se ela consegue do ar?
Logicamente que para fixar do ar as premissas expostas devem ser obedecidas e levadas em consideração.
“De condições ao Bradirhizobium japonicum e ele trabalha para você.”
Como visto, o sistema biológico é vivo e sofre muitas interações que pouco se controla, no entanto, em muitos deles podemos intervir.
O grande drama da adubação nitrogenada e que se começou a disseminar que a soja necessita de um arranque inicial, uma vez que, durante esta fase inicial ele ainda não foi infeccionado pela B. japonicum. Isto provavelmente foi lido por algum professor no livro do Marschner (Mineral Nutrition of the Higher Plants) e entendido ao pé da letra. Lá está escrito que existe uma “lag fase” até o inicio da fixação, cerca de 20 a 25 dias e para tanto é necessário suprir o nitrogênio, ai se inventaram as formulas 2-20-20, 4-20-20 e outras com um pouquinho de nitrogênio para dar o tal “start” nas plantas.
No entanto, o Dr Marschner deixou de considerar um fator fisiológico importante. O estimulo para a infecção, se da justamente pela falta do elemento, fato este que induz o estresse necessário à produção do isoflavona para produzir o fator do gen “NOD”.
Portanto, quanto mais cedo a soja for privada de N, mais cedo fará interações com o Bradirhizobium japonicum.
Ao se adubar com N, a soja se comporta como qualquer outra planta. Vai absorver o N do solo na forma de amônio ou nitrato para se manter. No entanto, quando atingir o estado V4 a V5. vai demandar muito mais nitrogênio. Ai é tarde, agora o estresse vai liberar as isoflavonas. Até que haja todas as interações bioquímicas haverá falta de N, pois se estará chegando ao estádio reprodutivo.
Então só resta uma saída, Adubos com nitrogênio. Acontece que muitos leem o livro do Marschner, considerado a bíblia da nutrição, mas ninguém decide contestá-la porque é o Marschner. O que está escrito lá vira lei.
Alguns marqueteiros aproveitam a deixa e fazem do escrito uma norma.
Como o agricultor é pragmático e os agrônomos comerciantes, está pronto o prato perfeito.
Para encerrar, está na moda a adubação nitrogenada da soja. Estamos jogando no lixo um legado da natureza, a fixação biológica de N.
No entanto, o pior de tudo é que apesar de toda a polêmica, ninguém avalia se a planta realmente precisa de nitrogênio.
Quem faz análise das folhas, pelo menos próximo ao florescimento que é a época crítica?
Poucos fazem diagnóstico. Alguns dizem não acreditar em análise de folhas. Quando se fala em DRIS, piora muito, pois a maioria desconhece a técnica.
Mas acreditam na adubação nitrogenada.
A adubação nitrogenada sem critério aumenta o peso da matéria seca de folhas, pois esta estimula a fotossíntese e a produção de aminoácidos. Acontece que esta estimulação provocada pelo N, pode colocar todos os outros nutrientes em deficiência. Alguém pensa no cálcio, no magnésio, manganês, cobre e outros?
Portanto, este veículo de divulgação chamado DOUTORES DA TERRA, nos convida a sermos doutores da terra.
Para tanto pensamos aprender e fazer diagnóstico para tentar receitar o remédio correto.
Sair aplicando nitrogênio ou qualquer outra coisa porque alguém falou que é bom é simplesmente curandeirismo para não dizer charlatanismo.
“Os europeus estão tentando por transgênia introduzir o gen NOD em plantas de milho para que este fixe N através do Bradirhizobium japonicum, que é muito mais eficiente que outros fixadores em gramíneas. Portanto, os europeus estão tentando transformar o milho em soja e nós brasileiros por sermos muito mais ricos estamos transformando a soja em milho.”